20/07/2011

Pai


começo a minha lista de memórias por uma pessoa. a minha pessoa preferida, pelo menos até uma certa idade. tendo em conta que não fui criada com mãe, o meu pai, foi a pessoa que a substituiu.
lembro-me de andarmos sempre de mão dada na rua. de dar sempre um beijinho de bom dia e boa noite. de por os meus pés em cima dos dele e andarmos assim pela casa, como se fosse uma dança. dos cozinhados dele, e não posso deixar de falar do fantástico cozido à portuguesa. de ajudá-lo a preparar os transformadores que fazia. de ir às compras com ele. dos passeios. das férias. da praia. da primeira vez que pegou na minha filha. da primeira vez que foi hospitalizado e que eu assisti, tinha 15 anos e tive um medo de morte. mais tarde, soube de outras coisas que de alguma forma me afastaram apesar, de já teres falecido. mas Pai é Pai.
Deste-me um quala de peluche tinha eu 9 anos. quem o tem é a minha filha.
Obrigada por tudo. Sei que fizeste sacrifícios. Um homem a tomar conta de tantos filhos sem a mãe, não foi nada, mas mesmo nada fácil. fui uma filha difícil desde sempre. muito revoltada com tudo. sempre respondona. embirrante que só eu. chata. quando queria uma coisa era terrível. uma vez, ainda com hora marcada para chegar a casa, pelos meus 16 ou 17 anos, falhei o horário e lá foste tu e o Paulo à minha procura, e lá me encontraram a caminho de casa toda feliz, nada preocupada com nada, enfim... fui fresca. Sei que erraste muito, erros graves, mas também sei o bem que fizeste por nós e isso, para mim pesa imenso, mesmo que ainda me deixe triste. É paradoxal, eu sei, mas na vida isso é uma constante.

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