01/07/2011

amor


" Guarda-me adormecida para sempre no teu peito ou deixa-me voar uma vez mais sobre esta terra de ninguém onde morro por qualquer cosa que me fale de ti.
Há noites assim em que o silêncio se transforma ao de leve numa lâmina que minuciosamente rasga o linho onde ficou esquecido o corpo que habitamos em provisórias madrugadas felizes...
Depois é só abrir os braços e acreditar que ainda faltam muitas horas para a partida e que à toa pelos corredores ainda escorre uma razão primeira a trazer-me de volta.
E eu adormecida para sempre no teu peito.
E eu acorrentada para sempre no teu peito. E de novo entre nós aquele choro de quem não teve tempo de preparar a despedida com as palavras certas; porque as palavras certas estavam todas em histórias erradas que outros escreveram em lugares nublados que nem vale a pena tentar recompor.
Muito ao longe uma voz desgarrada estabelece o fim do verão...
E eu adormecida para sempre no teu peito.
E eu acorrentada para sempre no teu peito..."

Alice Vieira

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