que me levavas tantas, mas tantas vezes...
essencias de pensamentos. de mim. de outrém. de amor. de saudade. de risos. de medos. de paz.
30/06/2011
...
" ... no desalinho triste das minhas emoções confusas...
Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações - áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emaranha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas."
Livro do Desassossego - trecho 47
29/06/2011
Hoje...29
28/06/2011
...
(...)"o mistério da vida dói-nos e apavora-nos de muitos modos. Umas vezes vem sobre nós como um fantasma sem forma, e a alma treme com o pior dos medos - o da incarnação disforme do não-ser. Outras vezes está atrás de nós, visível só quando nos não voltarmos para ver, e é a verdade toda no seu horror profundíssimo de a desconhecermos.
Mas este horror que hoje me anula é menos nobre e mais roedor. É uma vontade de não querer ter pensamento, um desejo de nunca ter sido nada, um desespero consciente de todas as células do corpo da alma. É o sentimento súbito de se estar enclausurado numa cela infinita. Para onde pensar em fugir, se a cela é tudo?"(...)
Livro do Desassossego - trecho 43
27/06/2011
não...
26/06/2011
24/06/2011
trapos...
" mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E, quando me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamente."
Livro do Desassossego - trecho 29
23/06/2011
o que somos?
"(...) E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e loucura. (...)
Olho, como numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com um pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minhas ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógicos, não foram, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento. Nem sequer representei. representaram-me. fui, não o actor, mas os gestos dele.
Tudo quanto tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou a um ente falso que julguei meu, por que agi dele para fora, ou de um peso de circunstâncias que supus ser o ar que respirava. Sou, neste momento de ver, um solitário súbito, que se reconhece desterrado onde se encontrou sempre cidadão. No mais íntimo do que pensei não fui eu.
Vem-me, então, um terror sarcástico da vida, um desalento que passa os limites da minha individualidade consciente. Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento. E a minha sensação de mim é a de quem acorda depois de um sono cheio de sonhos reais, ou a de quem é liberto, por um terramoto, da luz pouca do cárcere a que se habituara.
Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê.
É tão difícil descrever o que se sente quando se sente que realmente se existe, e que a alma é uma entidade real, que não sei quais são as palavras humanas com que possa defini-lo. (...)
Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e a consciência -, e acordo agora no meio da ponte, debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firmemente do que fui até aqui. Mas a cidade é-me incógnita, as ruas novas, e o mal sem cura. espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inteligente e natural.
Foi um momento, e já passou. Já vejo os móveis que me cercam, os desenhos do papel velho das paredes, o sol pelas vidraças poeirentas. Vi a verdade um momento. Fui um momento, com consciência, o que os grandes homens são com a vida. Com a vida? Recordo-lhes os actos e as palavras, e não sei se não foram também tentados vencedoramente pelo Demónio da Realidade. Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada íntima, da palavra mágica da alma. Mas essa luz súbita cresta tudo, consome tudo, deixa-nos nus até de nós.
Foi só um momento, e vi-me. Depois ja não sei sequer o que dizer o que fui. E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."
Livro do Desassossego - trecho 39
sentir igual
" Reconheço, não sei se com tristeza, a secura humana do meu coração. Vale mais para mim um adjetivo que um pranto real da alma. (...)
Mas ás vezes sou diferente, e tenho lágrimas, lágrimas das quentes, dos que não têm nem tiveram mãe; e meus olhos que ardem dessas lágrimas mortas ardem dentro do meu coração.
Não me lembro da minha mãe.(...) Tudo o que há de disperso e duro na minha sensibilidade vem da ausência desse calor e da saudade inútil dos beijos de que me não lembro. Sou postiço.(...) Ah, é a saudade do outro que eu poderia ter sido que me dispersa e sobressalta1 quem outro seria eu se me tivessem dado carinho do que vem desde o ventre até aos beijos na cara peuqena.
Talvez que a saudade de não ser filho tenha grande parte na indiferença sentimental.
(...)
Sou todas estas coisas, embora o não queira, no fundo confuso da minha sensibilidade fatal."
Livro do Desassossego - trecho 30
21/06/2011
17/06/2011
perdas
a vida é assim mesmo. perdas e vitórias. neste momento sei que perdi tudo, porque tu eras tudo e ainda mais qualquer coisa para mim. mas, tu também me ensinaste a relativizar as perdas, e é isso que estou a tentar fazer. e sei que estou a morrer por dentro, por vários motivos, mas acima de tudo, acredito que vou ultrapassar. valeste sempre a pena. sempre. mas tudo tem limites, não é verdade?
fantásticos anos. inesquecíveis. mas passado. adeus.
fantásticos anos. inesquecíveis. mas passado. adeus.
15/06/2011
06/06/2011
tão,mas tão...
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